quarta-feira, 30 de novembro de 2011

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Com uma insónia demoníaca, (re)voltas na cama e na cabeça, ligo ao 'ai-pode' e uma certa canção desperta uma recordação adormecida.

No tempo em que as minhas noites eram mais belas que os meus dias, que tratava o Bairro Alto por 'tu', conhecia meio mundo e tinha livre trânsito nos locais da moda.

A noite começava no "Sem Nome" com o Alexandre e um "Alexander". Depois eu seguia para o "Sudoeste", onde roubava um beijo ao Pedro, e depois ia - de capela em capela - numa 'romaria' nocturna. Assim que podia, o Pedro escapava-se e encontrava-me na 'porta ao lado' ("Os Três Pastorinhos"), e no meio do fumo - embalados pela música - tornávamos público o que era privado.

E, juntos, seguíamos até ao Incógnito, e depois íamos ver o sol nascer na 'mui nobre e sempre leal Cidade de Lisboa'... "sentado no cais / a ver ao longe o mar / e a ponte sobre o Tejo / se é tão bonito / é por causa de ti / e deste meu desejo"... Não era amor. Não era paixão. Era simplesmente "hum não querer mais que bem querer".

Uns anos mais tarde, ironicamente num jantar num dos 'nossos' locais, eu soube da morte do Pedro. Nós tinhamo-nos afastado e perdido o contacto. Mas a noticia foi um choque para mim.

Entretanto nunca mais fui ao Bairro Alto. A vida mudou. Eu mudei. E, no Bairro Alto, há demasiadas histórias de beijos e desejos, escondidas (esquecidas?) e perdidas.